quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A pureza das crianças!

Estava conversando com um grupo de crianças, e comecei a refletir sobre a  realidade. Normalmente da boca dos adultos só ouvimos lamentações, desesperanças, etc... Mas quando escutamos as crianças, percebemos que encaram o mundo de um outro prisma, com os olhos cheios de esperança. As perguntas e as respostas dos pequeninos são permeadas de pureza, de encanto, e o amor salta ante seus olhos. O próprio Jesus diz: o Reino é daqueles que vivem como as crianças. Aí encontra-se o sentido da vida, e qual é o sentido? "Ser para os outros", ser puro de coração, saber perdoar, acolher a todos, conhecer seus limites, confiar  nos outros, etc... 
Na hora, lembrei da canção do poeta "Gonzaguinha".

"Ontem o menino que brincava me falou
Que hoje é semente do amanhã
Para não ter medo que esse tempo vai passar
Não se desespere não, nem pare de sonhar
Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs
Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar
Fé na vida, fé no homem, fé no que virá
Nós podemos tudo
Nós podemos mais
Vamos lá fazer o que será".

O término da reflexão depende de você!

Rodrigo J. da Silva

Redes Sociais: pesquisas apontam que uso em excesso pode causar depressão


 "Uso excessivo de redes sociais pode causar depressão”. É o que afirma a pesquisa desenvolvida, em 2011, pela Academia Americana de Pediatria. O professor universitário W.Gabriel Oliveira, no entanto, alerta: "devemos destacar o termo excessivo”. Ele avalia que é necessário impor um limite, em especial entre adolescentes, mas que há benefícios nas redes sociais que também devem ser considerados, como a socialização e as mobilizações virtuais.

 Os pesquisadores responsáveis pelo estudo o denominaram de ‘Depressão Facebook’, a qual atinge, especialmente, adolescentes que ficam horas do dia navegando nas redes sociais. De acordo com a pesquisa, o uso sem moderação poderia acarretar atos de cyberbullying, ansiedade social e isolamento severo. Nesse sentido, é essencial que os pais acompanhem a vida virtual dos filhos.

Na avaliação de W.Gabriel, a forte adesão de adolescentes às redes sociais reflete características próprias da juventude, como formação da identidade, necessidade de socialização e auto-afirmação. Ele relembra que, em épocas diferentes, outros interesses aglutinavam a juventude e também requeriam limites por parte dos responsáveis. "Na minha época era o celular, através das promoções, os adolescentes passavam madrugadas ao telefone”, relata.

Para o professor, as redes sociais diferenciam-se de outras mídias, tendo em vista as inúmeras possibilidades de interação. "Texto, vídeo, imagem, comentários formam um bombardeio de percepções, que nos deixam dependentes. Quero saber se alguém falou comigo, qual a opinião do outro, se foi publicado algo relacionado a mim”, enumera. Ele avalia que as identidades são reforçadas por meio das redes sociais, a partir da imagem que se deseja passar.

Segundo a pesquisa, os jovens que desenvolvem depressão, já manifestam tendência ao isolamento ou ansiedade e buscam na internet uma forma de interagir com outras pessoas. Quando essa relação não se estabelece, eles ficam deprimidos. O trabalho alerta para que os pais avaliem se o período dedicado aos relacionamentos virtuais não estão interferindo na construção de relacionamentos reais.

Gabriel Oliveira cita algumas ferramentas que podem colaborar no controle dos responsáveis, como o bloqueio de sites. Outra medida, a qual requer acordos entre pais e filhos, é a definição de horários para uso da internet. Os pesquisadores orientam que os adolescentes devem ter uma vida equilibrada, com responsabilidades escolares, atividades extras e tempo livre para lazer, que pode ser utilizado também para uso da internet.

Em relação aos sites de redes sociais, por sua vez, algumas medidas de segurança são adotadas, embora possam "ser burladas”, conforme prevê o professor W.Gabriel. Uma delas é a idade mínima para acesso, em alguns casos é de 13 anos, em outros só é permitido o acesso com maioridade, 18 anos. Por meio da política de ética do site, também são proibidos conteúdos pejorativos, impróprios, pornografia, os quais podem ser denunciados pelos usuários. No entanto, com uma média de 750 milhões de usuários, tal controle ainda é deficiente.


Camila Maciel

Jornalista da Adital

terça-feira, 27 de setembro de 2011

SER PACIENTE

Durante as férias sentado à beira da praia conversando com um ancião, ele me disse: “a coisa mais linda do mundo é que um dia vem depois do outro. Nada como o tempo!”. Fiquei ruminando aquelas palavras e relacionando com a vida do ser humano pós-moderno. Com palavras simples revelou-me uma forma de viver, de encarar as situações limítrofes, as angustias, os sonhos, etc... Saber apreciar a beleza dum dia após outro, é ter consciência do significado que o tempo tem na cotidianidade. É saber que a paciência nos molda, e que o equilíbrio nas escolhas, nas respostas, muitas vezes vem do saber esperar. Por isso, a sabedoria é fruto da experiência de vida.
O ser humano pós-moderno devido ao imediatismo oferecido pela sociedade, vive um dos seus maiores dramas, a impaciência. Não sabe esperar! Muitas vezes a impaciência vem procedida de um discurso positivo, não perder tempo. Mas o intuito deste discurso é simplesmente para justificar a euforia exacerbada, não nos dando conta que estamos burlando a lei da paciência, da retidão, do equilíbrio, caindo na impulsividade.
 O amadurecimento é consequência dos anos, e estes, são nada mais e nada menos, do que um dia depois do outro. O ser humano por excelência foi Jesus Cristo. Quando estava junto de seus apóstolos tinha consciência de como a impulsividade era funesta.
Certo dia, estando Jesus a caminho de Jerusalém pediu aos discípulos que fossem preparar um local para repousarem, entraram num povoado de Samaritanos e estes não os receberam. Devido a rejeição, os discípulos tiveram um ímpeto de impulsividade: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los? Jesus, porém, voltou-se e repreendeu-os. E partiram para outro povoado” (cf. Lc 19,51-56). Jesus ao repreender os discípulos nos revela a relevância da paciência.
A paciência fez Jesus entender o processo de maturação da fé dos Samaritanos, sabia que mais tarde, creriam Nele. A paciência dá possibilidade para a autonomia, ressaltando a liberdade. A paciência é corroborada à medida que as circunstâncias vão aparecendo, mas só há progressão se houver consciência. O texto de Lucas diz que após a repreensão Jesus partiu com eles para outro lugar. Isso significa que o processo de paciência não é inerte, é rotativo.
Sendo assim, tenhamos nós também consciência de nossas impulsividades, libertamo-nos delas, para que possamos chegar a uma verdadeira maturação. Nada mais belo do que um dia após outro. A natureza nos ensina a esperar!

Rodrigo J. da Silva

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A ARTE DE DESAPRENDER

Apresentou-se à porta do convento um médico interessado em tornar-se frade. O prior encarregou o mestre de noviços de atendê-lo.
― Caro doutor – disse o mestre – o prior envia-lhe esta lista de perguntas. Pede que tenha a bondade de respondê-las de acordo com os seus doutos conhecimentos.
O jovem médico, acomodado no parlatório, tratou de preencher o questionário. Em menos de uma hora devolveu-o ao mestre. Este levou o papel ao prior e retornou quinze minutos depois:
― O prior reconhece que o senhor demonstra grande conhecimento e erudição. Suas respostas são brilhantes. Por isso pede que retorne ao convento dentro de um ano.
O médico estampou uma expressão de desapontamento:
― Ora, se respondi corretamente todas as questões – objetou – por que retornar dentro de um ano? E se eu tivesse dado respostas equivocadas, o que teria sucedido?
 ― O senhor teria sido aceito imediatamente e, na próxima semana, já estaria entre os noviços.
 ― Então, por que devo retornar em um ano?
 ― É o prazo que o prior considera adequado para que o senhor possa desaprender conhecimentos inúteis.
 ― Desaprender? – surpreendeu-se o médico.
 ― Sim, desaprender. Entrar na vida espiritual é como empreender uma viagem: quanto mais pesada a bagagem, mais lentamente se cobre o percurso. Na sua há demasiadas coisas substantivamente inúteis.
 E o doutor partiu sob promessa de retornar dentro de um ano, o que de fato sucedeu.
 Assim como há escolas e cursos para aprender, deveria também existir para ensinar a desaprender. Quantas importantes inutilidades valorizamos na vida! Quantos detalhes sugam nossas preciosas energias e consomem vorazmente o nosso tempo! Quantas horas e dias perdemos com ocupações que em nada acrescentam às nossas vidas; pelo contrário, causam-nos enfado e nos sobrecarregam de preocupações.
Precisamos desaprender a considerar os bens da natureza produtos de uso próprio, ainda que o nosso uso perdulário se traduza em falta para muitos. Desaprender a valorizar um modelo de progresso que necessariamente não traz felicidade coletiva e uma economia cuja especulação supera a produção. Desaprender a olhar o mundo a partir do próprio umbigo, como se o diferente merecesse ser encarado com suspeita e preconceito.
O desaprendizado é uma arte para quem se propõe a mudar de vida. Nessa viagem, quanto menos bagagem e mais leveza, sobretudo de espírito, melhor e mais rápido se alcança o destino. Vida afora, carregamos demasiadas cobranças, mágoas, invejas e até ódios, como se toda essa tralha fizesse algum mal a outras pessoas que não a nós mesmos.
O que nos encanta nas crianças com menos de cinco anos é a interrogação incessante, o interesse pela novidade, o espírito despojado. Era isso que sinalizou Jesus quando alertou a Nicodemos ser preciso nascer de novo, sem retornar ao ventre materno, e tornar-se criança para ingressar no Reino de Deus.
O médico candidato a noviço comprovou ser bem informado, mas ignorava a distinção entre cultura e sabedoria. Soube elencar as mais célebres telas da pintura universal, sem, no entanto, ter noção do que significam e por que o artista fez isto e não aquilo. Conhecia todas as doenças de sua especialidade, sem a devida clareza de como se relacionar com o doente.
A humanidade não terá futuro promissor se não desaprender a promover guerras e a considerar a pobreza mero resultado da incapacidade individual. Urge desaprender a valorizar o supérfluo como necessário e a ostentação como sinal de êxito. Desaprender a perder tempo com o que não tem a menor importância e se dedicar mais nos cuidados do corpo que do espírito.
A vida espiritual é um contínuo desaprender de apegos e ambições, vaidades e presunções. A felicidade só conhece uma morada: o coração humano. Eis aí milhões de viciados em drogas a gritar a plenos pulmões terem plena consciência de que a felicidade resulta de uma experiência interior, de um novo estado de consciência. Como não aprenderam a abraçar a via do absoluto, enveredaram pela do absurdo.
E convém aprender: no amor mais se desaprende do que se aprende.

[Frei Betto é escritor, autor de "A arte de semear estrelas” (Rocco), entre outros livros]