quinta-feira, 5 de setembro de 2013

"NÃO TENHAS MEDO"

         
Deus ao criar cada um de nós a sua “imagem e semelhança”, colocou dentro do nosso coração a sede de água viva... O ENCONTRO com Deus sacia está sede! O ENCONTRO com Deus dá sentido à nossa vida! O ENCONTRO com Deus reanima as nossas esperanças!
“Jesus estava na margem do lago de Genesaré, e a multidão apertava-se ao seu redor para ouvir a Palavra de Deus” (Lc 5,1). A multidão é formada por pessoas... Pessoas que estavam com sede... Pessoas que buscam sentido para a vida... Você e Eu fazemos parte desta multidão... Jesus disse a Pedro: “avance para as águas mais profundas, e lançai vossa rede para a pesca, [...] Pedro disse: trabalhamos a noite toda e nada pescamos. Mas, em atenção a tua palavra vou lançar as redes” (Lc 5,4-5).
Não deixe o desanimo, a falta de esperança, a perda de sentido embriagar teu coração... Jesus disse a Pedro e diz a nós: “não tenhas medo” (Lc 5,10). “Estarei contigo todos os dias” (Mt 28,20)... Isso é motivo de alegria! Aproveite seu dia... Em atenção a Palavra de Deus se ENCONTRE com Jesus... Você é especial!

terça-feira, 28 de agosto de 2012

“AS APARÊNCIAS ENGANAM”

Muitas vezes ouvimos as pessoas falarem: “As aparências enganam”. É sobre isso que queremos refletir um pouco. O Evangelho é paradigmático para nós, a partir dele temos pressupostos práticos para a nossa vida diária. Realmente, as aparências enganam! Jesus nos alertou contra este vírus quando entrou em conflito com os fariseus e doutores da lei, pois valorizavam a materialidade e se esqueciam do ser.
Guardai-vos de praticar a vossa justiça diante dos homens para serdes vistos por eles” (Mt 6,1). “Quando orardes, não sejais como os hipócritas, porque gostam de fazer oração pondo-se em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos homens” (Mt 6,5). “Ai de vós hipócritas que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas omitis as coisas mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia, e a fidelidade” (Mt 23,23). Porque Jesus é tão incisivo e radical com os hipócritas? Destacaremos alguns elementos que nos ajudarão na reflexão.
Quando valorizamos vorazmente as aparências, quando a preocupação com o “parecer ser para os outros” consomem demais nosso interior, consciente ou inconscientemente aniquilamos a nossa dimensão espiritual. O que significa a nossa dimensão espiritual? A dimensão espiritual nos ajuda a transcendermos as realidades visíveis, nos dá a possibilidade de compreendermos os significados dos símbolos. Os símbolos são tudo aquilo que vimos a partir da nossa realidade física. Quando observamos um símbolo logo percebemos sua forma, mas para entendermos os símbolos realmente, necessariamente devemos buscar compreender seus significados. Os significados são aquilo que os símbolos têm a missão de nos revelar, o que devemos valorizar realmente, o que está além do físico, além das aparências.
Só compreenderemos e valorizaremos se realmente conhecermos os significados! Por isso, devemos nos abrir para o novo! Somos convidados a irmos além das aparências! Devemos mergulhar no mistério da existência e nos aprofundar no relacionamento com o grande Outro que é Deus, e com os outros que estão ao nosso redor.
Quando observamos a beleza de uma árvore, não podemos esquecer que toda a sua pompa vem a partir de suas raízes, que nós não a enxergamos. A beleza da árvore dos fariseus e os doutores da lei, seus frutos, eram produzidos sem raízes, ou seja, sem a dimensão espiritual, sem os significados, eram apenas símbolos. E os símbolos por si só, não tem valor!
Cada um de nós carrega dentro do coração “o plus da criação”. O que isso significa? Dentre os bilhões de homens e mulheres “criados a imagem e semelhança de Deus” (Gn 1,26) cada um de nós é um ser único e irrepetível. Somos possuidores de singularidades, de dons, advindos de nosso Criador. Sendo assim, carregamos em nosso íntimo uma identidade. Está identidade vai se revelando a nós na medida em que vamos mergulhando no mistério da existência e buscando entender os seus significados. Esta identidade é o nosso ser! Aquilo que temos de mais sagrado! Por isso, ao vivermos de aparências, apenas para sermos vistos, elogiados, estamos revelando que não conhecemos a nós mesmos! Que não conhecemos a nossa interioridade!
A árvore sem as raízes torna-se vulnerável a qualquer vento ou intempéries. O ser humano que não conhece a sua interioridade, o seu ser, o seu intimo, o seu mistério, o significado da sua vida, apega-se apenas aos símbolos, as coisas visíveis e materiais, supérfluas. A exterioridade não revela a interioridade! Por isso Jesus diz: “Nas vossas orações não useis vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos. Não sejais como eles, porque vosso Pai sabe do que tendes necessitado antes de pedirdes” (Mt 6,7-8).
O que realmente Deus quer de nós? Deus quer o nosso coração! O coração é a fonte de onde emana todos os nossos sentimentos. Nós só daremos a Deus o nosso coração se compreendermos realmente a dimensão espiritual e conhecermos a nossa identidade. Deste modo, Jesus não nos chamará de hipócritas, mas sim de coerentes. Perceberá em nosso ser em nosso agir uma harmonia. A nossa vida se transformará numa grande sinfonia de amor, onde nós seremos os instrumentos, os nossos gestos de caridade a canção, e o maestro é Jesus. “Onde está o teu tesouro aí estará também o teu coração” (Mt 6,21). “Se a justiça de vocês não superar a dos doutores da lei e dos fariseus, vocês não entrarão no Reino dos Céus” (Mt 5,20).  

Rodrigo J. Silva

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Maria no Evangelho de São Mateus

         Estamos iniciando o mês de Maio, mês significativo, mês mariano, dedicado a Maria, Mãe de Jesus. Celebremos também em maio o dia das Mães. A nossa paróquia no decorrer deste ano de 2012 está oferecendo à possibilidade de aprofundarmo-nos na intimidade com a Palavra de Deus, através do Curso Bíblico. O conteúdo que está sendo trabalhado são os Evangelhos, iniciemos pelo Evangelho segundo São Mateus.
              Mês mariano! Mês das mães! Curso Bíblico! Evangelho de São Mateus! Todos estes temas serão abordados neste pequeno artigo. Como? Iremos dar um voo sobre o Evangelho de Mateus, e perceber as principais referências à Maria, e assim, salientar a relevância da sua abertura ao projeto de Deus.
              É fundamental termos como chave de leitura, os textos do evangelho de Mateus em que Maria é mencionada, tudo é centrado em torno da pessoa de José e não de Maria. Maria aparece como a esposa de José. Ela não fala. Não diz uma só palavra. É José que faz com que Jesus seja filho de Davi, capaz de realizar as promessas. Como esposa de José e Mãe de Jesus, Maria participa no destino de Jesus.  Os textos são: Mt 1,1-17; Mt 1,18-25; Mt 2,1-12; Mt 2,13-23 Mt 13,55; Mt 27, 5.
              1° - Mateus 1,1-17: A genealogia de Jesus termina com esta frase: “José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo”. José é a raiz histórica e cultural de Jesus. Jesus está situado na história de Israel desde Abraão, Davi, até José. Como percebemos, Mateus utiliza em sua genealogia o protagonismo de cinco mulheres, Tamar (1,3), Raab (1,5), Rute (1,5), Betsabéia (1,6), e por fim Maria.
Deus faz sua História na contramão da história, utiliza-se do lixo humano para manifestar sua justiça, seu amor. As quatro primeiras mulheres citadas na genealogia (Tamar, Raab, Rute, Betsabéia) questionam os padrões de comportamento impostos pela sociedade patriarcal. No entanto, foram essas suas iniciativas pouco convencionais que deram continuidade à linhagem de Jesus e trouxeram a salvação de Deus para todo o povo. Foi através delas que Deus realizou seu plano e enviou o Messias prometido. Realmente, o jeito de agir de Deus surpreende e faz pensar! No fim, o leitor ou a leitora fica com a pergunta: “E Maria? Por que ela fica ao lado dessas quatro companheiras? Existe alguma irregularidade nela? Qual é?” A resposta a esta pergunta é dada em Mt 1,18-25.
              2° - Mateus 1,18-25: O aviso a José: "José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como esposa". A gravidez de Maria acontece antes da convivência com José. Esta gravidez ocorre não por desvio humano, mas por vontade divina, pela força do Espírito Santo. O próprio Deus burlou as leis de pureza para que o Messias pudesse nascer no meio de nós!
              Se José tivesse agido conforme as exigências das leis da época, deveria ter denunciado Maria e ela poderia ser apedrejada. Mas José, por ser justo, não obedeceu às exigências das leis de pureza. Sua justiça era maior e levou-o a defender a vida tanto de Maria como de Jesus.  Por isso, devemos ficar atentos à vontade de Deus para acolhê-la mesmo quando nos pede aquilo que não esperamos.
              3° - Mateus 2,1-12: Os Magos do Oriente buscam Jesus observando os sinais da natureza, a estrela. “Ao entrar na casa, viram o menino com Maria sua mãe”. A mãe do rei tem um papel preponderantemente como nos canta o salmista: “Filhas de reis vêm ao teu encontro, de pé à tua direita está à rainha ornada com ouro de Ofir” (Sl 45,10). A esperança do Messias permanece “até que a mãe dê a luz” (Mq 5,2). Sendo assim, é relevante sabermos reconhecer a presença da salvação num menino recém nascido com sua mãe.
              4° - Mateus 2,13-23: A Fuga para o Egito: "Levanta-te, toma o menino e sua mãe!". “O menino e sua mãe” é uma formula que aparece várias vezes nesta perícope, e tem a finalidade de destacar o comprometimento de Maria  em fazer a vontade de Deus. Um projeto não pode ser abandonado.
              Mateus nos apresenta Maria que acolhe a Palavra de Deus, que diz sim ao seu projeto de amor. Maria, mulher dá Palavra. Maria discípula missionária. Maria fiel. Maria, a mulher da discrição, foi fiel a sua vocação no silêncio e no ordinário de sua vida.  

Rodrigo J. Silva

terça-feira, 27 de março de 2012

RESSURREIÇÃO COMO CAMINHADA

     “Somos peregrinos e estrangeiros nesta terra... Estamos em busca de uma pátria, da pátria celeste” (Ef 4,11). A dinâmica da caminhada faz parte do processo de encontro com o Cristo, com o Cristo Glorioso, o Ressuscitado! Colocar-se em caminhada é a condição primeira que Deus nos pede para o encontro. É na caminhada que se dá o processo de amadurecimento da fé, de purificação, e de conversão.
     O Senhor falou a Abraão: “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, vai para a terra que eu te mostrarei. Eu farei de ti um grande povo, eu te abençoarei...” (Gn 12,1-2). O Senhor disse a Moisés: “Eu vi, vi a miséria do meu povo... Ouvi seu grito por causa dos seus opressores, pois conheço as suas angustias. Por isso desci a fim de libertá-lo... e para fazer subir desta terra para uma terra boa e vasta, terra que emana leite e mel” (Ex 3,7-8).
     Como Abrão e Moisés, nos relatos dos Evangelhos, Jesus sempre se coloca a caminho, nunca está inerte. Vai a todos os povoado, visita as casas, realiza as mais diversas curas, aos que estão à margem trás para o meio da sociedade. Após ser batizado, Jesus é conduzido pelo Espírito ao deserto, e é neste local paradoxal que as tentações são vencidas.
     Em nossas vidas é diferente? Não, nós também devemos estar em constante caminhada, assim como o povo de Deus no deserto, e como o próprio Jesus. A Igreja todos os anos nos propõe este desafio de caminhar durante quarenta dias, durante o período quaresmal, tendo como objetivo celebrar a Páscoa do Senhor. Neste itinerário, assim como Jesus, também somos convidados a superar as tentações cultivando dentro do nosso coração as virtudes da oração, do jejum e da caridade. Não há Páscoa sem caminhada queridos irmãos e irmãs! “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto” (Jo 12,24).
     Páscoa é ressurreição. Para celebrarmos a ressurreição é imprescindível configurarmo-nos com Jesus, sendo reflexo de Jesus através da nossa vida, Ele que fez a maior loucura de amor, dar a vida por nós numa cruz. Amor com amor se paga! Para alcançarmos a ressurreição, a vitória da vida sobre a morte, devemos passar também pela cruz. “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me” (Lc 9,23).
     Abraçar a cruz eis o critério para ressuscitarmos com Jesus. Isso implica em uma opção de vida, num modo diferente de viver. Jesus mostrou a síntese do caminho da ressurreição na vivência dos seus últimos dias. Ao entrar em Jerusalém, Domingo de Ramos, foi aclamado como Rei. Um Rei pobre que chega montado num jumentinho. Seu império era estruturado sobre o amor ao próximo. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).
     Jesus é a mensagem e o mensageiro. Na Quinta-feira Santa, véspera de sua paixão, Cristo orou no Monte das Oliveiras (Mt 26,36), em seguida reuniu os seus discípulos para celebrarem a páscoa, a Santa Ceia ( Lc 22,14-15). Nesta mesma noite, Jesus lavou os pés dos discípulos e deu-lhes o mandamento do amor. A grandeza para Jesus está em servir e não em ser servido.
     Por trinta moedas Jesus foi traído, e o preço da traição é o madeiro da cruz. Na Sexta-feira Santa celebramos a subida de Jesus ao Monte Calvário, local que demonstra a plenitude de sua obediência ao Pai. Mas, a cruz, o túmulo lacrado, não é o fim, na vigília do Sábado Santo, a Luz de Cristo volta a brilhar, representado no Círio Pascal. As trevas são dissipadas, Cristo é a luz do mundo, e quem o segue não anda nas trevas (Jo 8,12).
     Este é o sentido do nosso peregrinar, ressuscitar com Cristo, ter “vida em Abundância” (Jo 10,10). Jesus, “Deus o ressuscitou”. Deus fez justiça ao Filho, ressuscitando-o (Jo,16,10). Ressuscitado, Jesus mostra que as Escrituras falam dele com clareza ( Lc 24,25-27) e faz o coração dos discípulos arder (Lc 24,32), dando-lhes a conhecer no partir do pão (Lc 24,30-31). Assim, a ressurreição de Jesus nos dá a certeza de nossa própria ressurreição ( Jo 11,25; 14,1-4), como também a certeza de sua presença viva entre nós, principalmente quando nós a invocamos ( Lc 24,29).
     Segundo Santo Hipólito, "...Cristo brilha sobre todos os seres mais do que o sol! É por isso que, para nós que cremos nele, se instaura um dia de luz, longo, eterno, que não se apaga: a páscoa mística”.
     A Páscoa do Senhor é um convite sereno para vivermos a ressurreição, desde já, na dinâmica do caminho, do amor e da fraternidade. Colocando-nos a disposição, nos aventurando e confiando na fé como Abraão e Moisés, e sendo obediente ao Pai como Jesus. O ressuscitado exige que nossa vida seja límpida, transparente, espelho do bem e sinal da salvação, numa profunda sensibilidade para o amor fraterno, e praticando a justiça. Precisamos ser plenamente missionários exalando o “bom odor de Cristo” (2Cor 2,15), do Cristo Ressuscitado.

Rodrigo J. da Silva

quarta-feira, 14 de março de 2012

Batatas…


O professor pediu para que os alunos levassem batatas e uma bolsa de plástico para a aula. Durante a aula ele pediu para que separassem uma batata para cada pessoa de quem sentiam mágoas, escrevessem os seus nomes nas batatas e as colocassem dentro da bolsa.
Algumas das bolsas ficaram muito pesadas. A tarefa consistia em, durante uma semana, levar a todos os lados a bolsa com as batatas. Naturalmente a condição das batatas foi se deteriorando com o tempo. O incômodo de carregar a bolsa, a cada momento, mostrava-lhes o tamanho do peso espiritual diário que a mágoa ocasiona, bem como o fato de que, ao colocar a atenção na bolsa, para não esquecê-la em nenhum lugar, os alunos deixavam de prestar atenção em outras coisas que eram importantes para eles.
Esta é uma grande metáfora do preço que se paga, todos os dias, para manter, a dor, a bronca e a negatividade. Principalmente quando damos importância aos problemas não resolvidos ou às promessas não cumpridas, nossos pensamentos enchem-se de mágoa, aumentando o stress e roubando nossa alegria. Perdoar e deixar estes sentimentos irem embora é a única forma de trazer de volta a paz e a calma.
Vamos lá… jogue fora suas “batatas” e sorria!
“Que o amor seja inteiramente sincero. Odeiem o mal e sigam o que é bom. Amem uns aos outros com carinho de irmãos em Cristo e em tudo dêem preferência uns aos outros.” (Romanos 12:9-10)

Autor Desconhecido


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Reflexões sobre o BBB


O Império Romano não foi derrotado pela espada e canhões, mas pela decadência moral! Respiramos uma atmosfera erótica generalizada. Nada acontece por acaso. Estes programas têm uma filosofia, uma intenção, um objetivo que é ganhar dinheiro pela via do erotismo. Sexo, dinheiro e fama são os piores ídolos da humanidade. Eles nos escravizam. Trata-se de uma ''trinca perigosa''. Depois que no Brasil, através de manobras políticas, foi liberado o divórcio instantâneo, a manipulação de células tronco embrionárias, a união de pessoas do mesmo sexo, a lei da palmada, entramos numa anarquia erótica. Sem esquecer o ''kit sexo'' idealizado pelo ex-ministro da Educação, o projeto da homofobia, do aborto e aquela jogada nada honesta de liberar o aborto em nome dos direitos humanos e da saúde publica, como queria o ex-ministro da Saúde. Virou uma balbúrdia, e até os que defendem as bandeiras da revolução sexual estão preocupados.
Tudo isso parece modernidade, mas é sintoma da doença da nossa civilização. O Império Romano não foi derrotado pela espada e canhões, mas pela decadência moral. Um sábio chinês diz que estamos confundindo um navio furado, invadido pelas águas e afundando, com uma piscina de banho. Estamos afundando e fazendo festa, como se o barco furado invadido pelas águas fosse uma piscina.

Nada temos a aprender da revolução sexual acontecida nos Estados Unidos e na Europa. São países envelhecidos e necessitados de braços estrangeiros, de mão de obra barata. Está mais do que comprovado que a revolução sexual fracassou. Tudo piorou com a pornografia na internet. Nossa cultura secularizada erotiza precocemente crianças e adolescentes fazendo explodir a gravidez precoce, a aids e outras doenças. O próprio Freud orientou a sexualidade humana para a sublimação.

Na ideologia do BBB está sendo passado um culto exagerado do corpo, a exaltação do instinto e da paixão, o homossexualismo, a inutilidade do casamento, a degradação da família. Isso tudo sem respeito pelo povo e seus valores morais. A banalização da sexualidade é um retrocesso destrutivo porque abre o caminho para a droga, o alcoolismo, o vazio interior, a exaltação do corpo. Há escolas onde a educação sexual consiste apenas em saber usar o preservativo, conhecer a fisiologia corporal e a praticar todo tipo de erotismo. Em muitos setores da sociedade o permissivismo está incentivando o contrário, isto é, a volta do moralismo, do tabu, do negativismo sexual. Não devemos perder a simpatia, o louvor, a gratidão pelo dom da sexualidade.

Na democracia temos o direito de protestar, contestar, dialogar, discordar. Em relação ao BBB, continuemos a utilizar a internet. Mudar de canal é um gesto que tem efeitos muito práticos. Não telefonar para dar o voto aos concorrentes também é algo eficaz. O protesto popular, a consciência social, a manifestação do povo e das instituições têm poder. O que não podemos é continuar reféns da ditadura do relativismo e do erotismo. BBB é um desacato à nossa cultura.
Não morremos por falta de sexo, morremos por falta de afeto, de carinho, de consideração. A paixão tem sabor de liberdade, mas é uma corrente que nos amarra e a carne não basta para saciar nossa fome de amor. O coração é mais que o corpo. O Brasil não pode ser a pátria do turismo sexual. Nossa tradição familiar e cristã é um bem para sociedade.

Tantos artistas convertidos já declaram ao mundo inteiro que a ''alegria do espírito é maior que a volúpia da carne''. O que vale é o amor, os valores, os limites, a humanização da sexualidade, a fé, a espiritualidade. O amor livre é uma invenção burguesa que leva à onipotência e onipresença do prazer desordenado. Torna-se escravidão e desilusão.
A sexualidade é uma energia que nos leva ao encontro com o outro inclusive com o grande Outro. É uma força de comunhão, de relacionamento, de amizade, de transcendência. Temos um longo caminho a percorrer na busca do equilíbrio e da maturidade sexual e afetiva. Quanto mais amor, mais pudor. A linguagem do amor compõe-se das seguintes declarações: eu sou amável; eu gosto de você; eu sou capaz de amar; eu amo e por isso escolho; eu decido amar alguém; eu sou teu para sempre.
28/01/2012 -- 00h00 

DOM ORLANDO BRANDES é arcebispo de Londrina.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O BOM PASTOR

1.      PERÍCOPE: (Jo10, 1-21)

“1 Eu vos asseguro: Aquele que não entra no redil pela porta, mas salta por outra parte, é ladrão e bandido. 2 Aquele que entra pela porta é o pastor do rebanho. 3 O porteiro lhe abre, as ovelhas ouvem sua voz, ele chama as suas pelo nome e as retira. 4 Quando retirou todas as suas, caminha à frente delas e elas atrás dele; porque reconhecem sua voz. 5 Não seguem um estranho, mas fogem dele, porque não reconhecem a voz dos estranhos. 6 Essa é a parábola que Jesus lhes propôs, porém eles não entenderam a que se referia. 7 Assim, pois, lhes falou outra vez: - Asseguro-vos que eu sou a porta do rebanho. 8 Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e bandidos; mas as ovelhas não os escutaram. 9 Eu sou a porta: quem entra em mim se salvará; poderá entrar e sair, e encontrará pastagens. 10 O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida, uma grande vitalidade.11 Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá sua a vida pelas ovelhas. 12 O mercenário, que não é pastor e nem dono das ovelhas, quando vê o lobo vir, foge abandonando as ovelhas, e o lobo as arrebata e dispersa, 13 pois ele é mercenário e não lhe importam as ovelhas. 14 Eu sou o bom pastor: conheço as minhas e elas me conhecem, 15 como Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a vida pelas ovelhas. 16 Tenho outras ovelhas que não pertencem a este redil; a essas tenho que guiar, para que escutem minha voz e se forme um só rebanho com um só pastor. 17 Por isso o Pai me ama, porque dou a vida, para recuperá-la depois. 18 Ninguém a tira de mim; eu a dou voluntariamente. Tenho poder para dá-la e recuperá-la depois. Este é o encargo que recebi do Pai. 19 Essas palavras provocaram nova divisão entre os judeus. 20 Muitos diziam: Está endemoninhado e louco. Porque o escutais? 21 Outros diziam: Essas palavras são de um endemoninhado; pode um endemoninhado abrir os olhos dos cegos? ” [1].

2.      ANÁLISE DA PERÍCOPE

O rebanho se encontra durante a noite, em um aprisco rodeado de muros, aos cuidados de um vigilante, que faz ao mesmo tempo o papel de porteiro, enquanto o pastor repousa reunido com sua família numa tenda (cf. vv.1-2). Pela manhã, apresenta-se para retirar as suas ovelhas, e o porteiro abre a porta. O pastor entra no recinto e chama as ovelhas pelo nome, e caminha diante delas, para leva-las a um lugar mais distante. (cf. vv. 4-5). “Nestas circunstâncias, chamar as ovelhas pelo nome, obedece talvez a intenção de facilitar a interpretação do conjunto, pois entre os animais são poucos os que possuem nome próprio. É possível que não se trate de um nome próprio para cada ovelha, e sim, dos vários grupos que elas pertenciam” [2]. “Os ouvintes, os judeus incrédulos, não compreendem a linguagem figurada de Jesus, porque não pertencem ao número de suas ovelhas” [3].  
“O pastor e o rebanho. O relacionamento de entre pastor e rebanho é apresentado como símbolo do relacionamento de Jesus e os seus” [4] (cf. vv. 1-6). Os vv. 1-6 compreende duas partes importante: a) o confronto entre o pastor e o ladrão (vv. 1-3); e a b) relação afetiva que liga as ovelhas ao pastor, por isso, o embate dos pastores diante do estranho (vv. 3-5).
No v.1 diz: aquele que não entra pela porta do redil é ladrão e bandido, algumas traduções ao invés de redil, trazem aprisco. A relação do redil, ou aprisco, é ligada ao templo, por isso, que o pastor a conduz para fora (cf. v.3), e é aí que elas encontram vida[5] (cf. v10).
Referente ao “levar para fora” as ovelhas e guiá-las indo à frente, Schökel diz que provavelmente é a primeira libertação em suas duas fases de “saída” do Egito e “caminhada” pelo deserto, guiados por Deus (cf. Sl 80,2). Primeira libertação que prefigura a presente, na qual Jesus vai levar para fora e guiar, e não vai conduzir ao velho redil[6].
            A figura do porteiro (cf. v.3) designa alguém ou é simples recheio descritivo? O AT nos fala de porteiros do palácio e do templo, responsáveis pela segurança. A parábola dá a entender que o porteiro não deixa os ladrões entrar, mas abre sem mais ao pastor. Pode conter uma futura explicação da função dos apóstolos em relação ao Pastor que é Jesus. E pode conter uma critica aos porteiros que não se comportam bem (cf. Is 56, 10).
            O porteiro, a porta, também pode ser relacionada diretamente ao pastor, que tem o papel de conduzi-las para fora, e também representam a totalidade, entrar e sair. O porteiro é guardião da porta da justiça verdadeira (cf. Sl 118,19-20), justiça esta que leva a libertação ao limite da vida e da morte. Aqui dá para aludir diretamente o pastor, o porteiro, aquele que conduz a nova vida, que é a salvação.
            Outro ponto é a relação pessoal do pastor com cada ovelha: conhece-as pelo nome, elas reconhecem sua voz. Adão dava nomes aos animais[7] (cf. Gn 2, 19-20), nome de espécie; o pastor de João dá nomes individuais, pessoais: “Chamei-te por teu nome, tu és meu” (cf. Is 43,1; 43,25). Naturalmente “ouvir sua voz” soa nas duas vertentes, de imagem e de realidade (cf. 18,37). Também nos diz que houve falsos pastores, antes e agora; e o v.6 sugere que os presentes não se sentem comprometidos, porque lhes convém não entender.
            Esses ladrões e bandidos podem ser falsos messias ou mestres abusivos. As ovelhas que reconhecem a voz são os fiéis que pela fé sintonizam com a voz.
            Ainda refletindo sobre a porta, no v. 7 diz: eu sou a porta, corroborando a reflexão de que Jesus é a porta que conduz a redenção, como está em Mateus: “Quão estreita é a porta, quão apertado é o caminho que leva à vida, e são poucos os que encontram!” [8]. Lucas exorta, esforçai-vos a por entrar pela porta estreita (cf. Lc 13,23-24). “O que os sinóticos dizem sobre a porta que conduz a salvação, Joao o refere diretamente a Jesus, através da formula de definição ‘eu sou’” [9].
            Nos vv. 7-10 o uso metafórico da porta é original. No templo a porta exterior e as interiores, permitiam o acesso unicamente aos autorizados (cf. Sl 118,20). Jerusalém também tem sua porta de acesso. Um texto escatológico anuncia: “Abri as portas, para que entre um povo justo” (cf. Is 26,2). Jesus é o único acesso (como a escada de Jacó 1,51): à casa de Deus, ao reino de Deus, ao Pai (cf. 14,6).
            O v.8 é muito duro pelo seu alcance geral. Talvez se refira as autoridades da época; a não ser que aluda a falsos messias, não reconhecidos pelos israelitas autênticos. Ou se dá valor hiperbólico à generalização (como p. ex no Sl 14) [10].
            Nos vv.14-18 é desenvolvido o tema central do amor e do sacrifício de Jesus pelos seus. Temas principais são pastor e ovelhas, dar a vida. “A expressão é uma variante da ‘formula de imanência’ (cf. 5,38) e indica por isso uma mútua e profunda relação pessoal entre Jesus e os seus” [11]. Para cultura semítica conhecer transcendi a dimensão intelectual abstrata, mas refere-se à experiência concreta, ou relacionamento intimo com uma pessoa. O modelo de conhecimento, é a relação de Jesus e o Pai, que é paradigma para a humanidade. “Daí se compreende quão profundo deve ser o ‘conhecimento’ entre Jesus e os seus, se é de algum modo participação na íntima união que liga o Pai e o Filho” [12]. É necessário lembrar a formula eu sou que está no v.11 e v.14, “... não indica uma simples revelação, mas uma promessa e um compromisso” [13].
            Ao chegar ao ponto do pastor modelo, a imagem torna-se estreita e a realidade penetra e a suplanta. Sobretudo no tema central do “dar a vida por”. Lendo a história de Davi, compreende-se que o pastor do rebanho paterno arrisca a vida para lutar com feras defendendo as ovelhas (cf. 1Sm 17, 35-36) e não faltaram reis que se arriscaram e perderam a vida lutando. Jesus é categórico e insistente: dá a vida a, dá a vida por (cf. vv. 10.11.15.17-18). O v. 18 poderia ser o enunciado de uma importante tese de soteriologia: Jesus dá a vida voluntariamente, sacrifica-se; sua morte será salvação para todos. Sua relação com as ovelhas é pessoal: tão pessoal quanto a sua com o Pai[14].
            Há também nesta seção dupla referência: denúncia de lobos vorazes e pastores interessados e descuidados (cf. Ez 34,2-6), aviso e convite aos pastores da Igreja (cf. At 20,28-29; 1Pd 5,1-2). É evidente o sentido missionário e universalista do v. 16: sob o signo da unidade do pastor e das ovelhas sem distinções (cf. Ez 37,22; Ef 2,13-16). Jesus assegura a suas ovelhas a liberdade de movimentos (cf. v.9) e o sustento apropriado (cf. Sl 23). O AT anuncia repetidas vezes a reunificação dos israelitas dispersos (cf. Is 49,22; 60,9; Mq 5,1 etc...). Além disso, alguns textos anuncia uma incorporação de pagãos (cf. Is 66,18-20; Zc 8,21-23). Jesus assume a missão universal sem distinções, e a Igreja deve continuá-la.
            A vida que Jesus traz v.10 é vida plena e perpétua, uma participação, por meio dele, na vida divina. Para isso veio, pois o homem com suas forças não pode alcançá-la. Mas, a vida plena em João tem duplo sentido, para o evangelista a vida plena inicia-se aqui, agora, e transcende a plenitude eterna. Ou melhor, a escolha por Jesus no presente já dá vida plena, que se perpetua na eternidade, são as categorias do “já” e “ainda não”.
            Dos vv. 19-21 estão os versículos que revelam as reações dos judeus, aqui eles afirmam que Jesus veio para separar e não para unir. Este desacordo dos judeus com Jesus é típico da dificuldade que a estrutura tem de abrir-se ao novo. Sendo que o novo gera insegurança e requer abertura, os judeus não apresentavam isso. Pelo tema do v.21 pode-se fazer referência ao cap.9 do cego de nascença,


[1] SCHÖKEL, A, L. Bíblia do Peregrino. Paulus: São Paulo, 2002.
[2] WIKENHAUSER, A. El Evangelio Según San Juan. Barcelona, Herder, 1967. p. 295
[3] WIKENHAUSER, p. 296.
[4] NICCACI, A; BATTAGLIA. O. Comentário ao Evangelho de João. Vozes: Petrópolis, 1981. p. 163 
[5] Reflexão aludida em sala de aula dia 14 de abril de 2011, pelo professor Padre Ney Brasil Pereira.
[6] Nota de rodapé in: SCHÖKEL, A, L. Bíblia do Peregrino. Paulus: São Paulo, 2002. 
[7] SCHÖKEL faz reflexão semelhante na nota de rodapé, in: SCHÖKEL, A, L. Bíblia do Peregrino. Paulus: São Paulo, 2002.
[8] Mateus 14,7; in: SCHÖKEL, A, L. Bíblia do Peregrino. Paulus: São Paulo, 2002.
[9] NICCACI, A; BATTAGLIA. O. p. 166.
[10] Referência feita em sala de aula pelo professor Padre Ney Brasil Pereira, dia 14 de abril de 2010.
[11] NICCACI, A; BATTAGLIA. O. p. 167.
[12] NICCACI, A; BATTAGLIA. O. p. 167.
[13] FABRIS, R. MAGGIONI, B.  p.385.
[14] Reflexão feita a partir da nota de rodapé, in: SCHÖKEL, A, L. Bíblia do Peregrino. Paulus: São Paulo, 2002.


Rodrigo J. da Silva