O Senhor falou a Abraão: “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, vai para a terra que eu te mostrarei. Eu farei de ti um grande povo, eu te abençoarei...” (Gn 12,1-2). O Senhor disse a Moisés: “Eu vi, vi a miséria do meu povo... Ouvi seu grito por causa dos seus opressores, pois conheço as suas angustias. Por isso desci a fim de libertá-lo... e para fazer subir desta terra para uma terra boa e vasta, terra que emana leite e mel” (Ex 3,7-8).
Como Abrão e Moisés, nos relatos dos Evangelhos, Jesus sempre se coloca a caminho, nunca está inerte. Vai a todos os povoado, visita as casas, realiza as mais diversas curas, aos que estão à margem trás para o meio da sociedade. Após ser batizado, Jesus é conduzido pelo Espírito ao deserto, e é neste local paradoxal que as tentações são vencidas.
Em nossas vidas é diferente? Não, nós também devemos estar em constante caminhada, assim como o povo de Deus no deserto, e como o próprio Jesus. A Igreja todos os anos nos propõe este desafio de caminhar durante quarenta dias, durante o período quaresmal, tendo como objetivo celebrar a Páscoa do Senhor. Neste itinerário, assim como Jesus, também somos convidados a superar as tentações cultivando dentro do nosso coração as virtudes da oração, do jejum e da caridade. Não há Páscoa sem caminhada queridos irmãos e irmãs! “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto” (Jo 12,24).
Páscoa é ressurreição. Para celebrarmos a ressurreição é imprescindível configurarmo-nos com Jesus, sendo reflexo de Jesus através da nossa vida, Ele que fez a maior loucura de amor, dar a vida por nós numa cruz. Amor com amor se paga! Para alcançarmos a ressurreição, a vitória da vida sobre a morte, devemos passar também pela cruz. “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me” (Lc 9,23).

Jesus é a mensagem e o mensageiro. Na Quinta-feira Santa, véspera de sua paixão, Cristo orou no Monte das Oliveiras (Mt 26,36), em seguida reuniu os seus discípulos para celebrarem a páscoa, a Santa Ceia ( Lc 22,14-15). Nesta mesma noite, Jesus lavou os pés dos discípulos e deu-lhes o mandamento do amor. A grandeza para Jesus está em servir e não em ser servido.
Por trinta moedas Jesus foi traído, e o preço da traição é o madeiro da cruz. Na Sexta-feira Santa celebramos a subida de Jesus ao Monte Calvário, local que demonstra a plenitude de sua obediência ao Pai. Mas, a cruz, o túmulo lacrado, não é o fim, na vigília do Sábado Santo, a Luz de Cristo volta a brilhar, representado no Círio Pascal. As trevas são dissipadas, Cristo é a luz do mundo, e quem o segue não anda nas trevas (Jo 8,12).
Este é o sentido do nosso peregrinar, ressuscitar com Cristo, ter “vida em Abundância” (Jo 10,10). Jesus, “Deus o ressuscitou”. Deus fez justiça ao Filho, ressuscitando-o (Jo,16,10). Ressuscitado, Jesus mostra que as Escrituras falam dele com clareza ( Lc 24,25-27) e faz o coração dos discípulos arder (Lc 24,32), dando-lhes a conhecer no partir do pão (Lc 24,30-31). Assim, a ressurreição de Jesus nos dá a certeza de nossa própria ressurreição ( Jo 11,25; 14,1-4), como também a certeza de sua presença viva entre nós, principalmente quando nós a invocamos ( Lc 24,29).
Segundo Santo Hipólito, "...Cristo brilha sobre todos os seres mais do que o sol! É por isso que, para nós que cremos nele, se instaura um dia de luz, longo, eterno, que não se apaga: a páscoa mística”.
A Páscoa do Senhor é um convite sereno para vivermos a ressurreição, desde já, na dinâmica do caminho, do amor e da fraternidade. Colocando-nos a disposição, nos aventurando e confiando na fé como Abraão e Moisés, e sendo obediente ao Pai como Jesus. O ressuscitado exige que nossa vida seja límpida, transparente, espelho do bem e sinal da salvação, numa profunda sensibilidade para o amor fraterno, e praticando a justiça. Precisamos ser plenamente missionários exalando o “bom odor de Cristo” (2Cor 2,15), do Cristo Ressuscitado.
Rodrigo J. da Silva