terça-feira, 24 de agosto de 2010

DIÁLOGO NA RODOVIÁRIA


I - Introdução
Numa sexta feira à tarde, na rodoviária esperando o ônibus escutei uma criança perguntar para sua mãe: “mamãe, será que serei feliz?” Não consegui escutar a resposta da mãe, mas a pergunta daquele menino me encantou e inquietou. A cena me fez pensar sobre a felicidade, e é sobre isto que quero partilhar com vocês.


Independente das escolhas pessoais, a grande meta de cada um de nós é a felicidade, mas para alcançar está felicidade, precisamos adentrarmo-nos numa aventura, “conhecermo-nos”. “Conhecer-se é uma arte”, e diria, a mais sublime dentre elas, pois devemos superar a tentação de mimetizarmos o interno de acordo com o externo, caso não consigamos, transformar-nos-emos em pessoas superficiais.


A felicidade é fruto de um processo de maturidade, de uma caminhada que exige ascese. No contexto hodierno há uma relação de conflito que assola a pessoa humana, mundo interno (eu) e mundo externo (social), devemos ter maturidade para chegarmos a uma síntese neste processo dialético. Há um passo que é imprescindível neste processo de maturação: construção da identidade.

II – Ter identidade
Será que serei feliz? Não tive a oportunidade de ouvir a resposta da mãe. Mas creio, um garoto que faz tal pergunta não se conformará com qualquer solução. Além do mais, a mãe poderia dar múltiplas respostas, mas nenhuma seria mais verossímil quanto à exortação: “a felicidade é um processo, uma busca constante, é uma integração de todas as dimensões: intelectual, espiritual, individual e comunitária. A mamãe vai te acompanhar nos passos iniciais deste caminho, pois não chegamos sozinhos”.


Os passos iniciais são os mais sublimes, pois formam o alicerce, e este, deve estar bem fundamentado para ereção da construção do edifício. O papel da mãe, do pai, ou melhor, da família é relevante neste processo. É a partir de casa que se constrói a tese, e está se confrontará com a antítese fornecida pela sociedade. Caso, a tese não seja bem fundamentada a pessoa humana cairá num “vazio existencial”.

O menino poderia perguntar: “o que é vazio existencial?” A mãe suspiraria e responderia com mais simplicidade: “vazio existencial” é quando nos preocupamos apenas com as aparências, quando vivemos e agimos apenas para agradar os outros. Quando exacerbamos as coisas matérias, e esquecemos-nos das pessoas, do amor, do respeito, do estar bem consigo mesmo, etc... O moleque entenderia logo o conceito, e animar-se-ia em dar mil exemplos: “mamãe na minha sala eles só falam em celulares modernos, só querem discutir sobre internet, orkut, etc... O meu coleguinha disse que o pai dele troca de carro a cada seis meses, etc... ”


A mãe orgulhar-se-ia da sensibilidade do filho, e a partir destes pressupostos incutiria em seu coração a virtude da coragem que se transformaria em liberdade. Destarte, a felicidade é liberdade, a liberdade é coragem, a coragem é autenticidade, a autenticidade é identidade. Só os corajosos possuem identidade, pois necessitam romper com uma estrutura que oprime, aliena e escraviza.

A identidade se constrói a partir da introspecção, da interiorização, da arte da relação, consigo mesmo e com o outro, e com o Grande Outro: Deus, através do cultivo da espiritualidade, e da consciência que transcendemos este mundo: “somos cidadãos do céu”. Claro, estamos inseridos numa realidade, e está é limitada, por isso, as angustias são intrínsecas aos humanos, mas nossa esperança no Deus amor e misericordioso deve nos alimentar no aqui e no agora.

Está conclusão não é para frustrar ou desanimar, mas sim, para encorajar. Pois o projeto magno é a felicidade, e esta, é um direito que possuímos. Ninguém pode nos furtá-la. As antíteses, os vazios são parâmetros que nos ajudam a nortear tal aventura, e neste peregrinar temos a esperança da felicidade, e a certeza que: “só sei que nada sei”, por que o Espírito de Deus está comigo. O Espírito suscita disposições internas inéditas e transforma o mundo objetivo, não há determinações existenciais.


Rodrigo J. da Silva

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