segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Consagrado para Evangelizar os Pobres

       Jesus, como um bom judeu, encontrava-se na sinagoga aos sábados, para a leitura das Escrituras Sagradas. Lucas compõe toda a cena partindo de dados tradicionais. “Jesus começa a pregar num dia de sábado, numa sinagoga: isto mostra que o evangelho se apoia nas promessas do Antigo Testamento”. Em Lucas todos os atos de Jesus são sob o impulso do Espírito Santo. “Impulsionado pelo Espírito, Jesus voltou da Galiléia [...]. Ensinava em suas sinagogas [...]. Foi em Nazaré onde se criara [...] entrou no sábado na sinagoga e se pôs de pé para fazer a leitura” (cf. Lc 4,14-16). Recebeu o livro do profeta Isaías e leu:
 
O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para que dê a boa notícia aos pobres; enviou-me a anunciar a liberdade aos cativos e a visão aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, para proclamar o ano de graça do Senhor.

Neste discurso inaugural, Jesus revela o objetivo de sua missão de forma sintética. A Galileia é o espaço dos excluídos, longe da capital e do templo. A missão do Nazareno começa pela terra onde fora criado. Deixa claro desde o início: a salvação de Deus não se reduz ao Povo de Israel. Admirado por muitos, suspeitado e perseguido por outros, Ele segue o seu caminho (cf. Lc 4,20-30). Um ministério que se caracteriza por muitas caminhadas, visitas, ensinamentos e curas.
“Ele é o profeta anônimo, ungido por Deus para consolidar e restaurar a condição do povo que tinha voltado do exílio e se encontrava em situação lastimável”. Assim, Jesus está consolando o povo que não têm perspectivas e vive em condições de submundo, marginalizados. “Sabe muito bem que o seu messianismo não comunga com o triunfalismo que o rodeia”.
A unção de Jesus tem um destinatário concreto, evangelização dos pobres, por isso precisa libertá-los das opressões, e das forças do mal. “... O povo perdeu a liberdade (prisão); e a capacidade de enxergar a realidade de forma crítica (cegueira); vive continuamente pressionado (oprimido) por dentro e por fora, e cada vez mais vai perdendo a vida...”. “Tal libertação não podia ser entendida de outra maneira senão como uma boa-nova...”. “... A atividade pública de Jesus a partir deste anúncio se desenvolve num movimento intenso de aldeia em aldeia buscando contato com todos os necessitados para proclamar em palavras e atos de cura as boas-novas da vinda do Reino de Deus aos pobres”.
“O ano da graça é uma referência ao ano do jubileu celebrado em Israel a cada 50 anos”: “Santificareis o quinquagésimo ano e promulgareis alforria no país para todos os seus habitantes. [...] Cada um recuperará sua propriedade e voltará à sua família...” (cf. Lv 25,10-12). “Para Jesus, o ano da graça consiste em anunciar boas-novas aos pobres, o que é traduzida em ações concretas, que envolvem os planos social, político, econômico e religioso”. A finalidade era de tornar possível o restabelecimento de uma condição perdida e avassalada, ou seja, possibilitar uma vida nova.
A profecia de Isaías citada por Jesus era conhecida pelos israelitas, mas Jesus inova ao dar um significado atualizado: “Hoje, em vossa presença, cumpriu-se está Escritura”(cf. Lc 4,21-22). “O hoje se refere ao momento em que ele não só está lendo, mas também realizando o que o profeta anunciara”. Há uma identificação entre a vida, a realidade do povo e a Palavra proclamada por Jesus.
Após seu discurso, aparentemente Jesus foi aceito, mas em seguida a dúvida perpassa o coração dos ouvintes. “Mas não é este o filho de José?” (cf. Lc 4, 21-22). Expulsaram Jesus da cidade, fora rejeitado por causa de sua origem, pois viera de família humilde e de um lugar sem importância. Ora, “como é que um homem pobre, filho de carpinteiro, pode atribuir tal missão a si mesmo? [...] Será que é mesmo dos pobres que vem a salvação?”. Mesmo sendo rejeitado pelo seu próprio povo, correndo o perigo de morte, Jesus continua itinerante e firme no seu projeto. “Ele, porém, passando entre eles, foi-se embora” (cf. Lc 4,30). A expansão do Reino não se limita à rejeição, à dúvida, e até à hostilidade de alguns, ninguém impede o caminho de Jesus. “Ele continuará o seu caminho anunciando a Boa notícia aos pobres e libertando o povo para a vida...”. A ação de Deus na história não pode ser impedida. “A de quem se opõe a força do Espírito”.
Devido ao seu programa de vida, Jesus é desprezado, sua opção torna-se motivo de conflito. “O reino de Deus se caracteriza pela vida, uma vida tão abundante que os leprosos ficam limpos e os mortos ressuscitam [...]. Os poderosos se sentem ameaçados e acusam Jesus de fazer prodígios em nome de Belzebu...”. A adesão ao projeto exigiria conversão e participação, por isso, sentiram-se questionados e expulsam Jesus.
A alienação ofusca os olhos, mas certamente não foram os indigentes que expulsaram Jesus da cidade. “Pela natureza da esperança que ofereciam, devemos supor que o anúncio dos seguidores encontrou resposta entre os pobres e foi repudiado entre os ricos”. O questionamento de Jesus vai ao encontro dos que vivem sua religião de um modo mesquinho e fechado, nesta os excluídos não tem vez. E Jesus, foi consagrado pelo Espírito para evangelizar os indigentes, não poderia mesmo ser aceito!


Rodrigo J. da Silva

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