O
Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para que dê a boa
notícia aos pobres; enviou-me a anunciar a liberdade aos cativos e a visão aos
cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, para proclamar o ano de graça do
Senhor.
Neste discurso inaugural, Jesus revela o objetivo de sua missão de forma
sintética. A Galileia é o espaço dos excluídos, longe da
capital e do templo. A missão do Nazareno começa pela terra onde fora criado. Deixa
claro desde o início: a salvação de Deus não se reduz ao Povo de Israel.
Admirado por muitos, suspeitado e perseguido por outros, Ele segue o seu
caminho (cf. Lc 4,20-30). Um ministério que se caracteriza por muitas
caminhadas, visitas, ensinamentos e curas.
“Ele é o profeta
anônimo, ungido por Deus para consolidar e restaurar a condição do povo que
tinha voltado do exílio e se encontrava em situação lastimável”. Assim, Jesus está consolando o povo que não têm
perspectivas e vive em condições de submundo, marginalizados. “Sabe muito bem
que o seu messianismo não comunga com o triunfalismo que o rodeia”.
A unção de Jesus tem um
destinatário concreto, evangelização dos pobres, por isso precisa libertá-los
das opressões, e das forças do mal. “...
O povo perdeu a liberdade (prisão); e a capacidade de enxergar a realidade de
forma crítica (cegueira); vive continuamente pressionado (oprimido) por dentro
e por fora, e cada vez mais vai perdendo a vida...”.
“Tal libertação não podia ser entendida de outra maneira senão como uma
boa-nova...”. “... A atividade pública
de Jesus a partir deste anúncio se desenvolve num movimento intenso de aldeia
em aldeia buscando contato com todos os necessitados para proclamar em palavras
e atos de cura as boas-novas da vinda do Reino de Deus aos pobres”.
“O ano da graça é uma
referência ao ano do jubileu celebrado em Israel a cada 50 anos”:
“Santificareis o quinquagésimo ano e promulgareis alforria no país para todos
os seus habitantes. [...] Cada um recuperará sua propriedade e voltará à sua
família...” (cf. Lv 25,10-12). “Para Jesus, o ano da graça consiste em anunciar
boas-novas aos pobres, o que é traduzida em ações concretas, que envolvem os
planos social, político, econômico e religioso”. A
finalidade era de tornar possível o restabelecimento de uma condição perdida e
avassalada, ou seja, possibilitar uma vida nova.
A profecia de Isaías citada
por Jesus era conhecida pelos israelitas, mas Jesus inova ao dar um significado
atualizado: “Hoje, em vossa presença, cumpriu-se está Escritura”(cf. Lc
4,21-22). “O hoje se refere ao momento em que ele não só está lendo, mas também
realizando o que o profeta anunciara”. Há
uma identificação entre a vida, a realidade do povo e a Palavra proclamada por
Jesus.
Após seu discurso,
aparentemente Jesus foi aceito, mas em seguida a dúvida perpassa o coração dos
ouvintes. “Mas não é este o filho de José?” (cf. Lc 4, 21-22). Expulsaram Jesus
da cidade, fora rejeitado por causa de sua origem, pois viera de família
humilde e de um lugar sem importância. Ora, “como é que um homem pobre, filho
de carpinteiro, pode atribuir tal missão a si mesmo? [...] Será que é mesmo dos
pobres que vem a salvação?”. Mesmo
sendo rejeitado pelo seu próprio povo, correndo o perigo de morte, Jesus
continua itinerante e firme no seu projeto. “Ele, porém, passando entre eles,
foi-se embora” (cf. Lc 4,30). A expansão do Reino não se limita à rejeição, à
dúvida, e até à hostilidade de alguns, ninguém impede o caminho de Jesus. “Ele
continuará o seu caminho anunciando a Boa notícia aos pobres e libertando o
povo para a vida...”. A
ação de Deus na história não pode ser impedida. “A de quem se opõe a força do
Espírito”.
Devido ao seu programa
de vida, Jesus é desprezado, sua opção torna-se motivo de conflito. “O reino de
Deus se caracteriza pela vida, uma vida tão abundante que os leprosos ficam
limpos e os mortos ressuscitam [...]. Os poderosos se sentem ameaçados e acusam
Jesus de fazer prodígios em nome de Belzebu...”.
A adesão ao projeto exigiria conversão e participação, por isso, sentiram-se
questionados e expulsam Jesus.
A alienação ofusca os
olhos, mas certamente não foram os indigentes que expulsaram Jesus da cidade.
“Pela natureza da esperança que ofereciam, devemos supor que o anúncio dos
seguidores encontrou resposta entre os pobres e foi repudiado entre os ricos”. O
questionamento de Jesus vai ao encontro dos que vivem sua religião de um modo
mesquinho e fechado, nesta os excluídos não tem vez. E Jesus, foi consagrado pelo Espírito para evangelizar os indigentes,
não poderia mesmo ser aceito!
Rodrigo J. da Silva
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