Ao ler
o Evangelho de Lucas são perceptíveis os desafios que emergem no contexto da
Igreja atual. Dentre eles, gostaria de destacar o referente à universalização
da mensagem, ou seja, a catolicidade da missão. A universalidade é fruto do protagonismo
do Espírito Santo na obra do apóstolo.
Jesus deixa claro desde o início, que a salvação de Deus não se reduz ao
Povo de Israel.
Seu ministério se caracteriza por muitas caminhadas, visitas,
ensinamentos, curas. É neste bloco, sobretudo, que Lucas quer cumprir um dos
objetivos do seu Evangelho: revelar quem é Jesus de Nazaré e qual a sua
proposta. Lucas como companheiro de viagem de Paulo, incute em seus inscritos a
mesma universalidade abordada pelo companheiro de missão. “Não há judeu nem
grego, não escravo nem livre, não há homem nem mulher; pois todos vós sois um
só em Cristo Jesus” (cf. Gl 3,28).
A salvação é uma possibilidade para
todos, direito de todos, e Jesus demonstra isso através de sua práxis. Rompe com todos os sectarismos: puro e impuro, pobre e rico, homem e
mulher, judeu e pagão. Jesus, conduzido pelo Espírito Santo, revela que o amor
está acima da lei.
Para corroborar a universalização do
Evangelho, será abordada em relances a postura de Jesus lucano diante da alteridade. Com isso, dá para fazer um paralelo com a postura da
Igreja atual diante dos desafios vigentes, como o relativismo ético, a pluralidade,
a inculturação, a pastoral urbana, hedonismo, etc...
O universalismo do Jesus lucano é
assinalado antes de sua vida pública, ou seja, da sua missão. "Luz para
iluminar as nações” (cf. Lc 2,32), e assim como está no livro do profeta
Isaías: “toda carne verá a salvação” (cf. Lc 3,6). “... A ação de Jesus virá
trazer a salvação de Deus, superará barreiras, transporá fronteiras, romperá
limites”. Um universalismo que transpassa o âmbito geográfico.
O critério para Jesus é a fé e esta
se manifesta pelo amor. Pela fé de um leproso com a palavra e o toque do Mestre acontece a cura (cf. Lc 5,12-16). A fé impulsionou o paralítico a buscar ajuda,
não conseguindo aproximar-se de Jesus carregaram até o terraço e entraram
através das telhas, vendo a fé dele, Jesus diz: “homem, teus pecados estão
perdoados” (cf. Lc 5,20).
Chama um cobrador de
impostos para segui-lo, Levi (cf. Lc 5,27-28), em seguida participa duma festa
em sua casa e toma refeições com pecadores. Jesus rejeita a hipocrisia social, vence
o legalismo e estabelece novos critérios e provoca rupturas (cf. Lc 5,27-39). Jesus liberta da lei e prioriza a pessoa; a necessidade
é o critério da administração dos bens (cf. Lc 6,1-5).
No discurso da planície,
Jesus estava em oração, escolhe os doze apóstolos, em seguida desce onde se
encontram “... numeroso grupo de discípulos e imensa multidão de pessoas de
toda a Judéia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e Sidônia. Tinham vindo para
ouvi-lo e serem curados de suas doenças” (cf. Lc 6,17-19). A gratuidade nas relações:
amor até para com os inimigos (cf. Lc 6,27-35). Misericordioso como o Pai do céu
é misericordioso (cf. Lc 6,36-38). Acolhe a mulher conhecida como pecadora
corrigindo a ideologia machista e conclui o diálogo afirmando: “Tua fé te
salvou; vai em paz” (cf. Lc 7,36-50).
Rodrigo J. da Silva
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